Primeiros Anos

 O  PRIMEIRO GRUPO ESCOLAR

Lázara Aparecida Fogaça Bandoni*

Esta história começa quando nossa cidade ainda era muito pequena e contava apenas com quatro escolas isoladas. Os moradores de Itararé desejavam um grupo escolar e os dirigentes da cidade tudo fizeram para que isso se tornasse realidade.
Foi então que o Coronel Acácio Piedade, proeminente político da vizinha cidade de Faxina, hoje Itapeva, solicitou ao Presidente do Estado a criação de um grupo escolar para Itararé, e graças ao prestígio que desfrutava, teve seu pedido atendido.
Pelo decreto de 5 de setembro de 1910, o Presidente do Estado de São Paulo, Albuquerque Lins, criou o Grupo Escolar de Itararé, e removeu o Diretor Thomé Teixeira, do Grupo Escolar de Faxina, para o mesmo cargo no Grupo Escolar de Itararé.
          Ainda pelo mesmo decreto,  quatro escolas isoladas foram anexadas para formar o primeiro Grupo Escolar da cidade, sendo seus professores nomeados para dar continuidade ao ensino na nova unidade escolar. Esses professores, todos formados pela Escola Complementar de Itapetininga, foram os seguintes:       - Izaltino de Paula Arruda e Aurora de Moraes Rosa, ambos da 4ª Escola de Itararé;
                    - João Ayres de Camargo, Genaro de Oliveira e Theodorica Ribeiro, da 3ª Escola;
                    - Francisca Antunes dos Santos, da 2ª Escola;
                    - Ermelinda Sobral, da 1ª Escola;
                    - José Carlos de Oliveira, substituto Efetivo da 2ª Escola  masculina.
           Para o funcionamento da escola foram contratados os seguintes funcionários:  João Batista da Silva e Mariana da Silva, serventes; e Heitor dos Santos, porteiro.
          O Grupo Escolar de Itararé começou a funcionar  no dia 27 de setembro de 1910,  em prédio provisório adaptado para escola, situado na esquina das ruas General Carneiro, atual XV de Novembro, e Coronel Crescêncio.                                                             
            No ano seguinte, a Profª Maria Augusta Teixeira, esposa do Diretor Thomé Teixeira, foi removida do Grupo Escolar de Faxina para o de Itararé, e foram nomeados alguns substitutos: Áurea Prado Fiuza, Joana Melillo e Hércules Peppo Traballi.
Quatro anos após, em 12 de dezembro de 1914, em meio a grandes festas, a escola foi transferida para  o novo prédio. Entre as festividades, foi apresentado um belo programa no Teatro São Pedro, especialmente ornamentado para a ocasião. Um espetáculo teatral com várias comédias foi encenado pelos alunos do Grupo Escolar.  Os componentes da orquestra e da banda Lira Itarareense, regidas pelo Maestro Melillo, muito contribuíram para o êxito e brilho das festividades
            Nesse tempo, a escola dirigida por Tomé Teixeira já tinha horta escolar, criação de abelhas e do bicho da seda, além da Caixa Escolar para atender alunos necessitados. Tomé Teixeira permaneceu  como diretor do Grupo Escolar de Itararé até  a sua aposentadoria,  em 31 de abril de 1934.
Hercules Peppo Traballi, mais tarde nomeado porteiro do estabelecimento, por volta de 1921 reuniu um grupo de alunos que se tornaram os primeiros escoteiros de Itararé.
Com o movimento das Revoluções  de 30 e 32, as aulas foram suspensas e o Grupo Escolar foi ocupado por soldados,servindo como hospital. As Revoluções causaram muitos prejuízos para a cidade e também para a escola, com o desaparecimento de muitos  documentos.
O SINO DO TOMÉ TEIXEIRA

O grande sino dourado tocava alegremente quando as mãos de José Melillo ou de Seu Peppo, o sacudiam, várias vezes  ao dia, avisando os  horários de entrada, saída e recreio dos alunos, sendo também responsável pela formação das filas, tudo na mais perfeita ordem.
Naquele tempo, o porão escuro era o terror das crianças. Tinham muito medo do porão e do esqueleto que diziam existir ali, a que chamavam de corpo seco. Acreditavam que os alunos mal comportados eram levados, como castigo, ao porão escuro.  Era crença geral.
O Grupo Escolar possuía dois grandes pátios, separando os alunos por sexo, masculino e feminino, divisão que continuou pelo menos até a década de 1940. Nessa década foi construída, ao fundo, do lado direito do pátio, uma sala comprida para servir a sopa escolar. A escola tinha os pratos, mas os alunos tinham que levar  a colher. A sopa era boa e apreciada pelas crianças; era vendida no início da aula, para quem pudesse pagar dez ou vinte centavos; os outros  a tomavam de graça. Além de fornecer uniformes e material para o estudo, a Caixa ainda oferecia a sopa para os alunos de poucos recursos.
                                       
MUDANÇA DE NOME

              Por várias décadas o Grupo Escolar de Itararé permaneceu como o único estabelecimento de ensino da cidade, e somente em 18 de março de 1945, passou a denominar-se Grupo Escolar Tomé Teixeira, em homenagem ao seu primeiro diretor.
            Várias gerações de itarareenses que por ali passaram orgulham-se de terem ocupado seus bancos escolares, guardando lembranças da infância, das brincadeiras nos pátios, e dos enérgicos professores. 
            Os programas de ensino dessas épocas proporcionaram oportunidades de excelente aprendizagem ministrada pelos abnegados mestres. Aprendia-se muito em apenas quatro anos e, por essa razão, o Grupo Escolar era muito valorizado.
            No decorrer do tempo, professores são lembrados com reconhecimento pela   grande dedicação à formação dos cidadãos itarareenses. É difícil citar nomes sem esquecer alguém que deva ser homenageado. Apenas para lembrar dos mestres mais antigos, podem ser citados: João Evangelista Marques,  Irene Aires, Maria Gavião, Adelaide Barco, Aracy de Oliveira Mello, Esther Carpinelli Ribas, Alice Fonseca Braga, Marcolina Porto Lemos, Luiza Rolim, Floriza Barreto, Maria José Antunes, Eden Aparecida Pires, Adriano Rolim, nomes encontrados nos documentos escolares. É preciso não esquecer dos diretores  que vieram depois de Tomé Teixeira:  a começar por Adolpho Arruda Melo, Oswaldo de Arruda Stein, Francisco Rolim de Moura, Taciano Dias de Carvalho, Manoel Raimundo Marques, e muitos outros. Pelo grande número de professores que por ali passaram, torna-se difícil citar todos os excelentes mestres que já nos deixaram ou se aposentaram, e que merecem todo respeito e consideração pelo maravilhoso desempenho no ensino que ministraram.
 Também não podem ser esquecidos os antigos serventes da tradicional escola, D. Paulina Furlani e D.Emilia Novelli,  e Seu Leo, que procuravam manter a disciplina nos pátios, atendendo as crianças. Devem ser lembrados,  ainda,  os tranqüilos porteiros - “seu” Peppo e José  Carmino Melillo.

                                        AS FESTAS ESCOLARES

Os professores trabalhavam muito, de forma a arrecadar verba para suprir as necessidades existentes. Então faziam concursos e eram vendidos votos para eleger uma rainha da primavera ou o homem mais feio da cidade. Os alunos vendiam os votos por preço irrisório, e traziam o dinheiro para os professores. Ao final, depois de uma bela festa no Cine Teatro São José, que apresentava pequenas peças com os alunos da escola e também um ato variado de canto e dança, tudo ensaiado pelas professoras, a escola conseguia  arrecadar uma boa importância para ajudar os mais carentes, além de animar a cidade, 
Algumas festas, como a da bandeira, eram realizadas na frente da escola entre os canteiros, e outras, no grande pátio interno onde aconteciam os jogos. Algumas eram realizadas fora da escola no antigo pátio existente em frente da cadeia. Ali havia grande quantidade de mangueiras e como no centro não havia árvores, esse espaço era cercado com cordas e ali se realizavam festas escolares com muitos jogos: corridas com bandeirinhas; corridas de sacos; ovo na colher, e outras brincadeiras próprias das crianças.  Havia, também, bonitas demonstrações de ginástica com música realizadas no campo de futebol do Fronteira, organizadas pelas professoras Adelaide Barco e Aracy de Mello.
Os desfiles de 7 de setembro eram sempre muito imponentes e as famílias compareciam para ver os filhos desfilarem. A beleza estava na simplicidade e no patriotismo.  Não havia carros alegóricos. À frente vinha o Tiro de Guerra, depois os escoteiros do seu Peppo, e os batalhões com todos os alunos uniformizados, desfilando garbosos, acompanhados por seus orgulhosos professores.
Quando chegava o fim do ano, era feita uma linda exposição de trabalhos manuais, preparados durante o ano todo, ocupando as duas  salas da frente do Grupo Escolar. A seção feminina apresentava lindíssimos bordados, enquanto na seção masculina podiam ser vistos trabalhos com fibras torcidas, cordas e barbantes, que resultavam em bonitas sacolas e cestas, e também, trabalhos em madeira, como porta- toalhas. Além  disso,  ainda faziam belas montagens com cartolinas pintadas.
As mais brilhantes festas do Grupo Escolar aconteciam no Teatro São José, destacando-se as de formatura do 4º ano, com solene entrega dos diplomas. No palco, uma mesa com  professores e autoridades homenageavam os alunos que concluíam o Curso Primário. Chamados um de cada vez, os alunos vinham acompanhados de padrinhos, recebiam o diploma, cumprimentavam os componentes da mesa e recebiam o esperado presente do padrinho sob os aplausos da platéia, composta por amigos e familiares.
 O orfeão entoava hinos patrióticos e canções do nosso folclore; um aluno representante das turmas que deixavam a escola, emocionado, fazia um breve discurso de despedida.
 Durante a tarde, os patronos  ofereciam uma mesa de doces  e presentes para as crianças que concluíam o 4º ano. Os alunos tiravam fotos no ateliê do fotógrafo Jansson e a escola mandava fazer belos quadros de madeira entalhada, apresentando os pequenos diplomados do Grupo Escolar de Itararé.
 Passaram-se os anos e a escola continua bonita como sempre. Os velhos e imponentes coqueiros, as escadas e os muros com graciosas grades de ferro, ainda enfeitam a entrada da EE.Tomé Teixeira, como era desde o princípio. Essas imagens permanecem  vivas  na lembrança de todos os ex-alunos, recordando a infância cheia de alegria e de saudade.


*Professora, Diretora do Centro do Professorado Paulista e representante do Elos Clube de Itararé, historiadora