Anos 30



LEMBRANÇAS DA ESCOLA
Mário Klocker*
Meus relatos são lembranças da época em que ainda menino frequentei o Grupo Escolar de Itararé, hoje Escola Estadual Tomé Teixeira.
Nasci no Bairro da Seda, neste município, em 27 de maio de 1924. Quando estava com a idade de sete anos, meus pais mudaram-se para Itararé, para que eu pudesse frequentar as aulas, tendo entrado como aluno principiante no Grupo Escolar, em  1931. Nessa época, morávamos na rua Cônego Sizenando, do outro lado do córrego da Prata, perto da linha da Rede Viação Santa Catarina.
No primeiro dia de aula, entrei de mãos dadas com meu vizinho Mário Contieri, e minha professora era dona Marcolina Lemos, esposa do Sr. Henrique Lemos.
Tive como 2ª professora, D. Alice Fonseca Braga, mãe de D. Vicentina Ferreira Braga, posteriormente aposentadas como professoras primárias.
Como em 1932 houve a Revolução Constitucionalista, perdemos um bom tempo de aulas e por esse motivo não passei de ano.
Minha professora no terceiro ano foi Aracy de Oliveira Mello, com quem aprendi bastante. Ela era muito enérgica e exigente. Mesmo já passados muitos anos e eu já estabelecido, com 26 anos, ela achava-se com direito de puxar  a minha orelha,  o que não deixava de fazer.
No 4º ano primário, a minha professora foi  D. Adelaide Barco, que também foi ótima. Como professora, mantinha a classe em silêncio sem nunca precisar levantar a voz, e dava para ouvir uma mosca voando na classe.
Certa vez, na aula de trabalhos manuais, como não levei nada para esse dia, peguei uma tesourinha de meu colega Raul de Souza, recortei um homem e comecei a brincar. Quando D. Adelaide viu, me colocou de castigo perto da mesa dela, dizendo que iria levar ao conhecimento de meu pai, Albino Klocker, que também era muito enérgico. Eu, com medo que ela levasse o caso até ao meu pai, fui chegando devagar até pegar o recorte por mim feito, e fui encostando pela lousa até chegar à minha carteira,   e ela, envolvida com outros trabalhos esqueceu de mim.
Lembro-me bem do diretor Tomé Teixeira; quando saíamos para o recreio,  sempre estava entre nós o diretor Tomé com um elástico, e quando algum aluno brigava, vinha ele com o elástico  esticado, soltando nas pernas dos briguentos.
Outro de quem me lembro é do servente Hércules Peppo Traballi, que foi o fundador do corpo de escoteiros do Grupo Escolar, o qual eu muito admirava. Eu também fui escoteiro do Peppo, que era uma pessoa incrível, que além de ser o criador do Escotismo e trabalhar durante muitos anos  na escola, foi ainda o  reorganizador do Grupo Dramático, dando-lhe o nome de “Os Repentinos”, e  atuando como ator e diretor. Outra habilidade do Peppo era escrever, tendo colaborado com o Jornal “O Itararé ”, de propriedade dos Tatit, durante muitos anos.
Dos colegas da classe mista, me recordo de Doroty Jansson, Arlindo Nastally, Diva do Ventura, Mário Contieri e Raul de Souza.
No ano de 1937 tirei meu diploma primário, que foi comemorado no Clube Fronteira, que se localizava onde é hoje a residência do Dr. Henin A. Chuery.  Na  época, o diretor do Grupo Escolar era o Sr. Osvaldo Stein, e o paraninfo da turma foi o Sr. Francisco Alves Negrão e sua esposa, Srª Josefina Casagrande Negrão, que ofereceram para os alunos uma lauta mesa de  doces e salgados.    
                      
 
* Artista plástico - entalhes em madeira
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MEMÓRIAS DE MINHA INFÂNCIA 
Gumercindo Ferreira dos Santos*
                                                                                       
Nasci no Bairro do Rodeio, nesta cidade de Itararé-SP, em 03 de Novembro de 1926, filho único do casal José Ferreira de Almeida e Thereza Araújo Santos. Meus pais se dedicavam à agricultura e à pecuária, na pequena fazenda onde morávamos, e, desde pequeno ajudava nos serviços da rotina do sítio. Participava desde o plantio, formação e colheita das lavouras da época. Ajudava também na ordenha das vacas, na produção de leite e queijos, que eram elaborados por minha saudosa mãe, e consequentemente vendidos naquele bairro e na cidade.
Lembro-me muito bem que sempre participava das vendas dos produtos ali produzidos, desde o próprio leite, queijos e frutas, tanto no bairro como nesta cidade. Percorria a cidade conduzindo a pé boa quantidade destes produtos e os oferecia de casa em casa, até dispor de todos, e isso, dia após dia, semana após semana, tendo isto como rotina e missão.
Por volta de 1934 fui matriculado no Grupo Escolar Thomé Teixeira passando a frequentá-lo para fazer o curso primário, tendo como minha primeira professora, Dona Maria Luiza Rolim Pimentel. Vinha, na maioria das vezes, do Rodeio para Itararé, a pé, e outras a cavalo. Saia bem de madrugada do Rodeio, mas sempre fui o primeiro a chegar à escola. Lembro-me de que chegava antes do inspetor de alunos “Seu Peppo” abrir o cadeado do portão do Grupo. Eu era o primeiro a entrar, e também modéstia à parte, passei a ser o primeiro aluno da classe. No 2º ano tive como professora Dona Anita Merege, no 3º ano, Professor Armando e finalmente no 4º ano, Dona Ester Carpinelli Ribas, a qual, como as outras educadoras, gostava muito de mim por minha aplicação, pois sempre me dediquei na aprendizagem, sendo o primeiro no comportamento, na caligrafia e também ao decorar a tabuada, levando-me, com isto a ser o primeiro da classe, a ponto de que, por ocasião de minha conclusão do 4º ano primário, fui homenageado com um lindo crucifixo, o qual acompanhou um cartão (em anexo), que guardo com muita estima até os dias de hoje, contendo na integra os seguintes dizeres;

“Itararé, 30/XI/39
Ao meu querido e bom Gumercindo, ofereço esta simples, porém sincera lembrança, que, servirá para perpetuar esta data, grata para todos que lhe são caros. Com os meus maiores votos de felicidades, um grande abraço.
Sua ex- professora. Ester Carpinelli Ribas”

Assim, recebendo o diploma e a homenagem de minha querida professora, conclui o meu curso primário, no inesquecível Grupo Escolar Thomé Teixeira, que comemora seu Centenário, do qual, mesmo com o passar dos tempos, nunca me esqueci, como também dos colegas da época, o Dr. Celso Pelissari, Joaquim Salgadinho, José Costa (Zuza) entre tantos outros...
Graças à dedicação de meus excelentes mestres na arte de ensinar, que com esmero me deram uma base muito sólida, continuo minha vitoriosa jornada, sempre com a mesma dedicação, aplicação e perseverança...

* Empresário – Grupo Cofesa    
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GRUPO ESCOLAR "THOMÉ TEIXEIRA" - 100 ANOS 
                                                                                                                              Jorge Chueri*
MANHÃ: Na residência do árabe Simão Jorge Chueri, o aroma do café forte escapava pela porta aberta na rua, indo de encontro aos olfatos dos que por ali, naquela manhã, passavam...
E a voz, sonora e forte encheu a casa:
- Ô Jorge, já está na hora!
- É o Nei, o Garibaldi – disse minha mãe.
Cristovão e Garibaldi (conhecidos também como Assad e Nei) eram os dois filhos homens do casal José e Helena Andraus. Seu pai, admirador de “descobridor” Colombo, e de Garibaldi, esposo de Anita, homenageou os dois filhos com seus nomes, em uma família composta de mais cinco filhas mulheres.
Eu deixei a cozinha, passei pela sala e coloquei a tiracolo minha maleta escolar de madeira tingida de amarelo, ilustrada na base com um losango verde amarelo, onde se lia a frase “SALVE JAHÚ”, homenagem dedicada a um personagem brasileiro por seu feito aéreo em nossa aviação, que naqueles tempos, já estava engatinhando.
O percurso era pequeno. Em instantes chegamos à esquina da Quinze de Novembro onde o Grupo Escolar aparecia. Paramos defronte ao açougue do Honorato Gaya, internamente separado pelo cômodo onde o Pedro Pereira de Almeida, vendia suas verduras, suas frutas e legumes, suas rapaduras, seus pés-de-moleque, seus doces de cidra, suas cocadas. Ali, onde hoje é o atual edifício da Prefeitura Municipal de Itararé era o nosso antigo Mercado Municipal.
O movimento diante da escola era razoável – crianças subiam e desciam os degraus, mães e pais levavam seus filhos para o primeiro dia de aula. Algumas crianças choravam, não queriam ir à escola. Acompanhado de Garibaldi, subimos os degraus da escada que nos introduziriam ao interior do solene edifício.
Entramos numa pequena saleta. Garibaldi entregou algum papel a uma escrevente, que, após lê-lo, fez algumas anotações em um livro. A saleta estava movimentada. Pelo corredor várias crianças iam e vinham. Neste instante, um senhor trajando escuro apareceu.
Garibaldi, pronta e respeitosamente o cumprimentou:
-Seu Teixeira, este é o Jorge, filho de Simão Chueri. Ele mora pertinho, ali embaixo na Rua São Pedro, onde seu pai tem loja.
O professor era alto, tinha os cabelos bem pretos, brilhantes e um pouco ondulados. Usava uma camisa branca e uma gravata longa e de tonalidade cinza-claro. Sua pele tinha uma cor esquisita - não era escura nem clara – lembrava a peroba, pelo tom vermelho e a imbuia pelo escuro, com nuances de amarelo envelhecido, parecendo o recipiente em que se toma o chimarrão: tinha a pele cor de cuia.
A pele do rosto era totalmente despida de pelos, mas embaixo, na ponta do queixo, havia vestígios esparsos de rala barba. Tinha um porte atlético admirável, mas a bondade dos olhos e de quando estava falando a todos cativavam, apesar do escuro das suas lentes.
Entregando ao amigo Nei um papel, o respeitável diretor indicou-lhe o corredor dizendo:
-Vá até o final deste corredor, na ultima porta a esquerda, entre e entregue este papel do garoto á professora que está na sala.
Era ali a classe do primeiro ano primário. Uma simpática professora ao nos ver, veio sorrindo ao nosso encontro. Era ainda jovem, de voz amável e sorriso agradável. Agradeceu ao meu amigo e tomando-me pelas mãos, conduziu-me a uma carteira. Conversou alguma coisa comigo e sentiu a minha timidez em minhas respostas.
Foi nesse momento que me lembrei de minha mãe e senti vontade de chorar, já com saudade de casa e do que ela me havia dito antes de sair para a escola: “filho, aqui em casa eu sou sua mãe, mas na escola, “ABLA” (professora em árabe) é a sua segunda mãe... preste muita atenção ao que ela vai te ensinar”.
 Assim foi meu batismo no então Grupo Escolar de Itararé. Assim foi meu primeiro e inesquecível contato com minha querida dona MARIA GAVIÃO, que nunca mais vi e que só saudades deixou...
Fiquei o meu primeiro ano com dona Maria, mas à medida que o tempo passava nossa classe mais se entrosava. Conversávamos com nossos colegas no recreio, e já sabíamos e conhecíamos nossas vizinhas mestras. Nos exames de fim de ano fizemos provas e quase toda a minha classe foi aprovada para o segundo ano escolar.
Agora tínhamos outras professoras. Fui para a classe de dona Irene Santos, e, posteriormente, eu e mais alguns colegas fomos para a classe (também 2º. ano primário) da dona Esther Carpinelli Ribas, competente violinista.
Com ela aprendemos a cantar em vários ritmos, e assim em pouco tempo, toda a escola, antes de adentrar as salas de aula, parados no corredor, punham em “evidência” suas belíssimas (?!) e maravilhosas vozes.
Em certa ocasião, quando já cursávamos o 3º. ano primário e tínhamos como mestre o professor João Evangelista Marques, na hora do recreio, abriram-se os portões que existiam em um terreno contiguo. Corremos curiosos para observar o que havia naquele local, onde alguns homens capinavam ao redor de vários pés de amoreira.
Alguns dias depois, o professor Thomé Teixeira entrou na classe do professor João Evangelista. Trocaram algumas palavras e, em seguida, percorrendo toda classe, foi mostrando a cada aluno uma folha ilustrada com uma lagarta, dizendo ser ela o conhecido “bicho-da-seda”. Explicou-nos que pretendia criá-las na escola e contava com o auxilio dos alunos do terceiro e quarto ano. O resultado final seria que, com a venda dos casulos produzidos pelo bicho-da-seda, a escola poderia comprar cadernos e distribuí-los aos alunos da “Caixa-Escolar”. Dessa maneira ficamos sabendo que a capina em torno dos pés de amora plantada naquele terreno ao fundo do nosso recreio destinava-se a criação do bicho-da-seda.
 Logo o servente Hercules Peppo Traballi, que era ótimo carpinteiro, começou a fabricar uma espécie de bandeja com altos pés, onde seriam colocadas as larvas do bicho-da-seda.
Não vão vocês pensar que as lagartas do bicho-da-seda foram ali colocadas já adultas. No principio, após serem forradas com papel limpo, as centenas de óvulos produzidos pelas borboletas de bicho-da-seda foram espalhadas em poucas bandejas. A lagarta, após tornar-se adulta encerra-se em um casulo tecido com fio de seda, e dentro daquela prisão, após certo tempo, acaba se transformando numa borboleta branca, que cruzada com outra da mesma espécie, produzem uma grande quantidade de minúsculas bolinhas (óvulos), das quais nascerão novas lagartas do bicho-da-seda.
Assim, pois, após o recebimento dos óvulos, foram colhidas centenas de tenras folhas de amoreira, que depois de serem bem enroladas e picadas bem fininhas, como quem pica couve para virado, eram espalhadas sobre as bandejas devidamente forradas. Em seguida, por entre aquelas folhas, foi espalhada toda a remessa dos óvulos recebidos.
Após esta operação, as folhas picadas foram cobertas com folha de papel totalmente perfurada por pequenos orifícios. No dia seguinte, os encarregados da criação do bicho-da-seda, repetiam aquele trabalho, e assim, sucessivamente. Cinco ou seis dias depois, começou-se a notar que alguns fiapos de folhas de amoreira picadas pareciam se movimentar. Eram minúsculos serezinhos que, ávidos pelo cheiro das folhas das amoreiras, atravessavam os orifícios do papel em busca de alimentos mais frescos e saudáveis.
A técnica aplicada era a melhor maneira para não se perder uma larva sequer, pois sua cor escura podia ser confundida com a cor escura da folha velha da amoreira.
E como cresciam! Tão rápido que logo, logo era preciso transpô-las para outras bandejas desocupadas, que gradativamente iam ocupando os espaços vazios das salas.
E, finalmente chegou o dia mais importante para o bicho-da-seda. Já adulto queria ele deixar as grandes bandejas para tecerem seus casulos.
Foi um corre-corre danado. A equipe que deles cuidavam, saiu às margens das estradas e caminhos à procura de galhos de samambaia secos. E não foi pouca a quantidade desses arbustos que o velho “Peppo e o Leonidas” fixaram nas bordas e travessas de lado a lado das bandejas. Verdadeira “floresta artificial” de samambaias secas para receber estas lagartas maravilhosas...
E começou a subida. Cada lagarta buscava nas ramagens o seu lugar predileto e ali, precavida, procurando a defesa e proteção para si e seu casulo, iniciavam o seu trabalho. De início produziam uma espécie de teia branca, ligando suas extremidades em torno do local onde iria ficar o casulo. Pacientemente foi repetindo a operação até que seu corpo quase parecesse uma difusa sombra naquele emaranhado de fios trançados, do qual, ele próprio era seu prisioneiro.
Iniciou-se então a lagarta a tecer outra espécie de fio, produzida por sua baba. Desta vez, substituindo a branca teia, era agora, amarelada e cada vez mais carregada, quase chegando ao intenso dourado. E,por incrível que pareça, era um fio único, que trançado entre si ia, pouco a pouco, envolvendo todo o corpo do bicho-da-seda, até que, ele próprio se tornava um prisioneiro dentro daquele indestrutível casulo dourado de seda, enquanto em letárgico sono aguardava o termino de sua metamorfose...
Agora, caro leitor, imagine uma sala enorme, repleta de mesas com bandejas fixando determinada quantidade de galhos e ramas de samambaias secas, e naquela floresta artificial os milhares de casulos cor de ouro, aguardando apenas o tempo certo para serem recolhidos em cilíndricos cestos de taquara, medindo aproximadamente 1,70 a 2,00 m X 0,50 de diâmetro, que lhes serviam de embalagem e que pela estrada de ferro (Sorocabana) seriam enviados a destino certo.
Tempos depois, o querido professor, com um indisfarçável sorriso, mostrou a todos os alunos da sua escola, o lucro obtido com a venda dos casulos dos nossos bichos-da-seda. Lucros que seriam substituídos por cadernos, livros, lápis, borrachas, lápis de cor, régua e tantos outros materiais escolares a serem destinados aos alunos da Caixa Escolar. Exclusivamente aos alunos da Caixa Escolar.
Depois vieram as provas de fim de ano e nós, já no término do nosso curso primário (quatro anos) encerramos nossas atividades escolares.
Festa de formatura no Cine São José com direito a madrinha e padrinho. Sessão Solene, precedidas de grandiosa exposição de trabalhos manuais, com resultados para a Caixa Escolar.
Nossos colegas de classe cujas famílias eram bem aquinhoadas viajavam para outras localidades, prosseguindo seus estudos. Nós, por aqui, fomos à procura de serviços.
Os anos foram passando e nós nos distanciando dos nossos colegas, dos nossos amigos. Os anos 1930, 1932, 1934, 1935 ficaram lá atrás, movimentos escolares foram interrompidos pelos movimentos militares, atrasos para quem estudava, uma interrupção de futuras formaturas. Uma nevoa esfumaçada parecia querer apagar lembranças dos tempos escolares. Continuávamos assim mesmo nos desenvolvendo sem querer esquecer os nossos primeiros mestres, nossos queridos amigos e colegas.
O tempo, inexorável, continuava avançando. Um dia, o Professor Thomé Teixeira ganhou merecida aposentadoria, mas mesmo assim, continuou convivendo conosco. Depois transferiu sua residência para Santos, e aos 78 anos de idade veio a falecer naquela cidade praiana.
Até que um dia aconteceu o inesperado: o Grupo Escolar de Itararé, agora com o merecido nome de THOMÉ TEIXEIRA, passava a completar 100 anos de existência.
O historiador, Dr. Adriano Pimentel, em seu livro “Apontamentos Históricos de Itararé”, lembra a frase da mestra Chiquinha Rodrigues, se não me engano, prefeita de Tatuí, sobre o querido diretor, como sendo “O PRIMEIRO MESTRE RURALISTA QUE SÃO PAULO POSSUIU”.
Acertada também é a frase do nosso poetinha Silas Correia Leite: ”TOMÉ TEIXEIRA, 100 ANOS. ENTRA ALUNO, SAI CIDADÃO”.
O professor deixou para nós seu nome e a lembrança da magnífica figura de mestre, e esse monumento de ensino, que só não ornamenta a Rua XV de Novembro, mas também a nossa cidade, e, indubitavelmente a nossa região.
THOMÉ TEIXEIRA, QUE SAUDADE IMENSA
DAQUELES TEMPOS DE INFÂNCIA E PAZ,
DOS VELHOS MESTRES QUE NOS ENSINARAM
E DOS COLEGAS QUE NÃO VEJO MAIS...”
                                         João D’Aldeia
                                         (Jorge Chueri)
*Artista plástico, poeta, escritor,  jornalista
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A VIDA NOS RESERVA COISAS MARAVILHOSAS
Joaquim de Souza Salgadinho*

            Até os seis anos e meio eu morei na casa de  meus avós, no bairro do “Cercado Grande”, próximo ao bairro do Rodeio. Todo o meu mundo era a casa dos meus avós.
            Vim morar com meus pais na Vila São Paulo- Rio Grande, hoje Vila Rede, para entrar na escola Grupo Escolar de Itararé.
 Fiquei deslumbrado com tantas coisas enormes: a estação da Estrada de Ferro que era  um prédio muito grande, as máquinas eram gigantes e enormes eram os vagões de carga.
Na semana seguinte, fui com meu pai fazer a matrícula para frequentar o primeiro ano. Fiquei assustado com o tamanho do prédio do Grupo Escolar – 12 salas ! Uma era a diretoria, 9 eram salas de aula, tinha gabinete dentário, sala dos serventes, e dois pátios para recreio, masculino e feminino, ambos com grande número de sanitários.
D.Irene Santos foi minha professora do 1º e do 2º ano. Era  uma professora maravilhosa. Todos os alunos gostavam dela. No 4º ano também tive um  excelente professor que se chamava Armando Silva. Lembro de muitos colegas daqueles tempos:  Antonio Cordeiro, Paulo Freirias, Maneco Martins, Paschoal Jacopetti,, João Jordão, Celso Pellissari, José Arruda Taques, Antranik Derderian, Henin Chuery , entre outros.
Naquele ano de 1936, assumiu a diretoria da escola o professor Oswaldo Arruda Stein, para substituir o diretor Tomé Teixeira que se aposentou. Grande Professor, grande diretor. Eu ouvi muitos comentários sobre ele. Era um homem de grande visão e além de diretor, era jornalista; escrevia crônicas para o jornal local.
Com os alunos do 4º ano, o diretor plantava trigo no enorme quintal do Grupo Escolar. Depois colhia, moía e fazia a farinha de trigo. O prof. Tomé Teixeira que era muito estudioso, afirmou naquela época, que Itararé era uma terra própria para o plantio do trigo e que o nosso clima era propicio para essa cultura.
O professor Tomé Teixeira tinha razão. Hoje, aqui em nosso município, a maioria de nossos agricultores cultiva o trigo com muito sucesso.
A esposa do prof. Tomé Teixeira, D. Maricota, era uma pessoa maravilhosa. Foi professora de minha mãe e levou-a para morar em sua casa. Minha mãe tinha letra bonita e era boa em matemática. Aprendeu muito com D. Maricota, nos dois anos em que foi sua aluna – 1º e 2º ano. Depois foi morar em Santa Catarina, em Perdizes, um local onde não havia escolas. Era povoado por europeus poloneses, alemães e italianos, que eram funcionários da Estrada de Ferro São Paulo Rio Grande, e tinham muitos filhos. Eles pediram à minha mãe  para dar aulas da língua portuguesa para as crianças.
Os dois anos da Profª D. Maricota, valeram para minha mãe como se fossem    um ano de ginásio.
No meu tempo, os serventes do Grupo Escolar eram o Seu Leo Pontes, D. Paulina Furlani, D. Anita Rossi e D. Emília Novelli. Seu Peppo era o porteiro e também o chefe do Escotismo.

*Empresário

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CENTENÁRIO DO TOMÉ TEIXEIRA
Celso Pellissari*
            Em cada eleição, quando tenho que cumprir meu dever de cidadão, o local de votação é o Grupo Escolar Tomé Teixeira. Aí vem a recordação do dia em que, em companhia de meu pai, aos sete anos de idade, me dirigi  a esse local para o primeiro dia de aula. Talvez, hoje cause admiração por ser acompanhado por um familiar para tal mister mas, naquele tempo era um ato muito importante pois só havia em nosso município este estabelecimento  de ensino.   
            Antigamente não era como o momento atual em que os alunos freqüentam primeiramente a pré-escola. No primeiro ano, minha professora foi D. Marcolina Porto Lemos com a qual iniciei a minha alfabetização, construindo assim o alicerce da minha vida escolar. Era uma grande mestra, católica praticante e pertencia à irmandade do Sagrado Coração de Jesus. No segundo ano, fui aluno de D. Esther Carpinelli Ribas, esposa do cidadão Lauro Ribas. D. Esther era cunhada do prefeito municipal Sr. Amazonas Ribas que leva o nome de uma das principais ruas da nossa cidade. No terceiro ano, foi meu mestre o Sr. Armando do qual não me recordo o sobrenome. Para o último ano escolar, tive como professora D. Adelaide Barco Perusso. Durante suas primeiras aulas, fui chamado para falar sobre Geografia. O assunto era sobre os movimentos da  rotação e translação da Terra que davam origem ao dia e à noite e as estações do ano. Fiquei completamente perdido pois não havia estudado a matéria. D. Adelaide chamou-me a atenção perante os meus colegas, dando uma lição que mexeu com meu brio. Passei por um grande vexame. Ela me pediu que estudasse a matéria para o próximo dia.
            No dia seguinte, fui chamado novamente e, como havia estudado, me desincumbi airosamente da missão. Recebi um “muito bem” e nota dez. Deste dia em diante, procurei me dedicar com mais empenho nos meus estudos. Foi uma lição muito proveitosa para minha vida.
            O diretor da época era o senhor Osvaldo de Arruda Stein e tinha um filho chamado Levi que,  juntamente com Joaquim Salgadinho, era coroinha do Padre Pires. Naquele tempo, encerrado o quarto ano, estava completado o curso primário. Realizava-se uma festa de formatura pois era um curso de suma importância. Costumava-se escolher um paraninfo para a festa e, por coincidência, o escolhido da nossa turma foi meu pai, Sr. Antonio Pellissari que nos brindou com uma bela festa. Foram meus colegas: Ataliba Martiniano, Eurides Duarte, Maneco Martins, Nenê Furlani, Joaquim Salgadinho, Gumercindo Ferreira dos Santos, Nenê Lobo, Luiz Ximarelli, Clóvis Machado, Antranique Derderian, Luiz Fuzari, João Batista Veiga (Zizico), Oraci Rezende, Roberto Cortes, Benedito Ruivo (o primeiro aluno da classe), Paulito Ferreira, Ludgero Ferreira, Pedro Polidoro, João Galvão Pinheiro, Mário pedroso, Sebastião Ruivo, Antonio Cordeiro, João Gilberto Corrêa, João da Cruz e Rubens Góes.
            Eram serventes da escola Leônidas Pontes, Hércules Peppo Traballi e as senhoras Paulina Furlani e D. Emília. O Sr. Peppo era italiano mas, itarareense de coração. Prestou muitos serviços à nossa cidade, sendo um dos fundadores do escotismo e do Grêmio Dramático “Os Repentinos.”
            Nesta época, o prefeito de Itararé era o Sr. Heitor Guimarães Côrtes que, em  minha opinião, realizou uma obra muito importante para o intercâmbio entre o Estado do Paraná e o Estado de São Paulo. O mesmo era engenheiro agrônomo e construiu uma ponte de concreto sobre o rio Itararé, unindo os dois estados. Foram seus auxiliares Emílio Furlani com o serviço de concretagem e Henrique Ghizzi com o serviço de carpintaria. Naquele tempo, o concreto era feito com pedregulhos, cimento e areia, pois ainda não se tinha acesso à pedra britada. Foi uma grande obra que deve servir de orgulho à engenharia itarareense. Esta ponte está em pé até hoje e resistiu numa emergência quando foram danificadas as cabeceiras da ponte que serve a Rodovia atual que demanda ao vizinho estado. Por ela passaram modernas carretas com cargas de grande peso e, mesmo assim,  ela resistiu até hoje. Na minha opinião, deveria ser declarada como um monumento histórico. Nessa época, o governo Getúlio Vargas declarou o Estado Novo fechando o Congresso  e concedendo a si próprio poderes ditatoriais.
            Conheci em minha infância, o jovem Lindolfo  Gomes Gaia que, naquele tempo, jogando futebol, formou zaga do Clube Atlético Fronteira com Bira Gaia, seu primo. Entretanto, Dudu Gaia, como era conhecido, não se destacou no futebol mas sim, como músico. O maestro Gaia e sua esposa Estelinha Egg, realizaram uma tournnet pelos países europeus com uma série de apresentações difundindo a música popular brasileira. Entre os países visitados destacavam-se os que estavam além  da cortina de ferro cuja censura era muito severa. O maestro Gaia, em sua infância também freqüentou as salas do velho Tomé Teixeira onde veio a concluir o curso primário. Também foi aluno desse estabelecimento de ensino o garoto Humberto Ghizzi que, mais tarde, se tornou padre, vindo a servir como pároco a cidade de Porto Feliz pelo período de mais de vinte anos.
             Assim passaram-se os anos e, neste estabelecimento de ensino, construí o alicerce para a minha vida futura. Hoje, trago saudades daquele tempo de felicidade. Como dizia o poeta “Que saudades da aurora da minha vida, da minha infância querida, que os anos não trazem mais."         

*Cirurgião Dentista
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 O GRUPO ESCOLAR TOMÉ TEIXEIRA
José Antunes Martins*
  É uma grande honra falar sobre O Grupo  Escolar Tomé Teixeira.
 Conheço-o bem desde o tempo em que se chamava Grupo Escolar de Itararé, pois o prédio era o mesmo, com pequenas modificações. Do lado direito de quem olha de frente para o mesmo, ficava a ala feminina, e do outro lado, do lado esquerdo de quem olha  de frente para o prédio, ficava a ala masculina. Naquele tempo, meninos e meninas nem se olhavam, muito menos falavam entre si.
             A rua XV era barrenta em dia de chuva, mas eu era um privilegiado pois morava do outro lado da rua, onde é hoje a padaria do italiano. Para chegar à escola era só atravessar, eu era o último e não raras vezes com atraso, por esse motivo proibido de participar da fila de entrada que os meninos formavam no pátio interno, dois a dois, os menores na frente. O meu par era o Estelpar Ospedal, pois éramos os menores. Essa proibição não me incomodava muito, pois já estava completamente alfabetizado, senhor das tabuadas e continhas que aprendera na escola do Bairro de Santa Bárbara com minha tia Santa, quando foi professora rural. Havia colegas que moravam mais longe, como Oscar Rosa, que tinha casa perto da Capela do Divino  na rua São Pedro ou o Isaías que morava na chácara dos Tatit, na subida do Cruzeiro. Mas até estes chegavam antes de mim. As professoras eram muito exigentes, mas delicadas, atenciosas e competentes.
            Vou contar como era o currículo do último ano. Era:
 “ESTADO DE SÃO PAULO” CIDADES; LIMITES; ESTRADAS DE FERRO; RIOS; SERRAS; ESTRADAS DE RODAGEM. e ainda havia coisas como a RVPSC, sigla estampada em todos os vagões da Rede Ferroviária Paraná Santa Catarina, que todos na classe liam “Rubens vendeu pastel sem carne”.
           Mas não havia mapas disponíveis para todos, assim a professora chamava o aluno mais habilidoso para isso, que no caso era o Wandir Merege. Mandava que este desenhasse o que nós chamávamos de contorno do Estado de São Paulo, o que ele fazia hábil e rapidamente na lousa, com perfeição de causar inveja; em seguida a professora chamava algum outro para desenhar uma estrada de ferro com o nome das estações, por exemplo, Santos-Jundiaí ou Araraquarense e um outro aluno para desenhar as rios limítrofes  das quais um deles era um rio Itararé, para orgulho e gáudio de todos.
            O processo era em parte decoreba, mas valia, pois até hoje eu sei o nome de várias estações de vários lugares do Estado de São Paulo, e descobri que colegas da mesma idade sabem também. Só não sei até agora a utilidade, a não ser a íntima e estranha satisfação de saber (o que meu filho mais velho, anos depois, chamava de cultura inútil). O colega mais adiantado chamava-se Luz, sabia tudo, era muito inteligente e prestativo. Eu gostaria de ser como ele, um bom carroceiro, creio que era o único que trabalhava no pesado, pois entregava lenha para o Solano Bentos, pai do Solanito. Mais tarde passou a trabalhar num serviço mais leve, de tintureiro para os Nunes.
            Não completei o curso primário no Tomé Teixeira, pois na época havia um tal exame de licença, espécie de vestibular, para ingressar no curso colegial ou normal, e continuar os estudos, aos quais eu não estava preparado. Mas a minha irmã-professora havia se casado e queria levar-me para estudar em São Paulo.Assim eu saí do Tomé Teixeira e fui para o curso preparatório com dona Adelaide Barco, uma espécie do que chamam de “cursinho".
            Vivíamos na ditadura que depois continuou com o chamado Estado Novo e o professorado era o primeiro pessoal mais perseguido pelo governo. Os professores ganhavam pouco, mas eram respeitados como verdadeiras autoridades. E ensinavam muito, às vezes num esforço de heróis levavam alguns alunos recalcitrantes para suas próprias casas para ensinar a bordar tapetes, tecer cestas de barbantes ou telas de cadeiras, o que eu sei fazer até hoje depois de velho, e que me dá intenso prazer.
            E aprendi muito no Tomé Teixeira, pelo trato com colegas, pela amizade que perdura mais de 70 anos. Tenho guardado os cadernos, encapados com papel celofane da cor da matéria, uns vermelhos, outros verdes, outros azuis, como mandava e ensinava a professora cuidadosa. Hoje eles têm todos quase a mesma cor, que é a cor do tempo, do passado, e exalam o perfume inconfundível da saudade.

 * Advogado, escritor e poeta
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B A N D E I R A N T E   S E M   M E D O  
                                               EM   N O I T E   E S C U R A

Dorothy Jansson Moretti*

            Nada como uma fotografia – e posso falar de cátedra – para fazer-nos reviver um momento qualquer de nossa vida, que talvez houvéssemos esquecido completamente, não tivesse ele sido registrado pela objetiva atenta de um fotógrafo providencial.
            Nos “arquivos implacáveis” de meu pai, defronto-me continuamente com essas situações. Há dias, revirando velhos álbuns, deparei com uma foto minha aos nove anos de idade, vestida com farda de Bandeirante. Reportei-me imediatamente aos meus tempos de grupo escolar, e mentalmente revivi dois fatos que de há muito estavam adormecidos em minha memória.
            Um deles, ligado à história do escotismo em Itararé, foi uma excursão que fizemos à cidade de Itapeva.
            Que agitação! Cedinho estávamos todos reunidos em frente à casa de nosso monitor, o velho e querido Seu Peppo, italiano itarareense que era todo um folclore e que há de ser sempre lembrado como uma lenda, em nossa Itararé.
            Dali partimos em forma para a Estação Sorocabana. Era de trem que se faziam quase todas as viagens naquele tempo. Acomodamo-nos nos bancos, alegres e animados. Foram sem incidentes as duas horas que durou o trajeto.
            Chegando a Itapeva, fomos recebidos pelos escoteiros locais, com muita festa e demonstrações de amizade. Houve troca de abraços e de saudações gentis entre os monitores de lá e daqui. Um menino da família Lobo fez o discurso de recepção:
            “Caríssimos colegas! Ao entrardes em terras faxinenses” (Itapeva naquele tempo era Faxina). “Assim começava o discurso que foi muito bonito e muito aplaudido.
            Logo depois iniciamos as atividades programadas por nossos amáveis hospedeiros para aquela visita, ocupando-nos toda a manhã.
            Ao meio-dia o almoço foi num velho hotel e para nós, gente miúda, uma tremenda novidade comermos assim,  todos juntos, servidos por garçons! Parecia-me um luxo tudo aquilo.
            Na parte da tarde continuamos nossa interessante programação, sempre acompanhados e assistidos por nossos simpáticos anfitriões  faxinenses que nos cumularam de atenções e gentilezas, dando-nos a maior demonstração de cortesia, camaradagem e perfeita educação.
            Ao fim do dia estávamos de volta, felizes, emocionados, e cheios de histórias para contar.
            O outro fato de que me lembrei, de menor importância mas não menos pitoresco, foi uma embananada em que me meti, por não ter prestado muita atenção a um aviso de Seu Peppo. Ele nos havia dito que no dia seguinte, às quatro horas, iríamos fazer uma de nossas movimentações habituais, que consistiam em longas caminhadas a pé, exercícios ao ar livre, corridas em bicicletas... coisas no gênero, que geralmente praticávamos de manhã. Às vezes, devido à distância que iríamos percorrer, levávamos um pequeno lanche para comermos na estrada ou no campo.
            Não sei por onde andava o meu pensamento (sempre fui meio desligada), na hora em que Seu Peppo deu o aviso; mas chegando em casa , participei à minha mãe a ordem recebida. Se ela estranhou, não me lembro. De madrugada chamou-me. Já estava com o café na mesa e a sacolinha de lanche pronta para eu levar.
            Quatro horas da manhã seria escuridão total se as fracas lâmpadas dos postes não estivessem todas acesas. Incríveis tempos aqueles, em que uma garotinha saía só e tranqüilamente de casa àquela hora, sem que nada ou ninguém a molestasse! A não ser um cãozinho que latiu para mim na virada da esquina, ninguém mais tomou conhecimento dessa minha insólita aventura madrugona.
            A casa de Seu Peppo ficava ali mesmo na outra quadra da Rua  Quinze. Quando fui me aproximando, comecei a estranhar não haver luzes lá dentro, nem viva alma pelas imediações. Parei em frente ao portão, hesitante... “Bato ou não bato?”
            Achei melhor esperar; talvez o relógio lá de casa estivesse muito adiantado.
            Passaram-se alguns minutos. E então, repentina como um relâmpago, acendeu-se uma luzinha, não na casa de Seu Peppo, mas bem lá no fundo de minha cabecinha avoada...
“Será que ouvi direito? Vai ver que é às quatro... da tarde... Claro, sua idiota! É isso mesmo!...”      
            Era. Voltei para casa sem graça, murchinha e chateada, mas sem outro prejuízo que não fosse a perda daquelas horas gostosas do sono da madrugada... logo eu que nunca fora muito amiga de levantar com as galinhas.

 * Escritora, poetisa e jornalista