Anos 40

PEQUENOS ARTISTAS DO GRUPO ESCOLAR DE ITARARÉ
Maria Aparecida Rodrigues Magno

 Nasci em Itapeva e muito cedo mudei para Itararé com a minha família. Estudei os quatro anos iniciais no  Grupo Escolar de Itararé, como era chamado naquela época.
Vivi bons momentos  na escola. Naquele tempo as carteiras não eram individuais e nós sentávamos em dupla. Em minha memória vejo minha companheira de carteira, a Carmem La Pastina, garota muito esperta de quem, às vezes, eu copiava a lição. Das amigas que me acompanhavam no caminho para a escola, se destacava a Leila Antunes.
As duas professoras de quem mais  me recordo foram a D. Marcolina e D. Adelaide Barco, no 2º e 4º ano. Em minha turma estudavam só meninas.
Naquele tempo, os professores podiam castigar os alunos e muitas vezes eu fui para o castigo que era ficar em pé no canto da sala.
Eu e as outras meninas usávamos uniforme que era saia azul marinho e blusa branca. A nossa caneta era  para tinteiro, molhava-se a pena da caneta na tinta, e  depois de escrever,  usava-se o mata borrão para secar.
Figura que sempre me vem à memória é  a do Sr. Peppo Traballi que cuidava de nós no recreio. Ali, a brincadeira preferida era “pular amarelinha” e torcer para ir pro céu e não pro o inferno.
Também brincávamos  de teatrinho no pátio. Fazíamos um cercado com bancos,  e dentro dele, eu e meu irmão Dirceu Rodrigues dançávamos e cantávamos, e a criançada, ao redor, nos aplaudia. Nesse tempo eu devia ter 7 anos e  meu irmão, um pouco mais. Eis um trecho da música que a gente cantava:
     Chuva vai, chuva vem, 
     Chuva miúda não mata ninguém.,,
     A moça que muito namora,
      Não encontra casamento,
     Quando é pra se casar, vem... chuva de vento.

Quando deixei o Grupo Escolar eu tinha 11 anos. Aos 12 comecei a me  apresentar em peças de  teatro ao lado de meu saudoso irmão, Dirceu Rodrigues, que também foi aluno dessa mesma escola.  No grande palco do Cine Teateo São José, cantávamos juntos, vestidos de caipiras, e fazíamos muito sucesso com a música: “Muié Não Beba Pinga”.
  Hoje eu tenho 75 anos e guardo lembranças muito bonitas do tempo de escola.

  _______________


CENTENÁRIO DA E.E.TOMÉ TEIXEIRA

                                                                                  Maria de Lourdes Luciano Nonvieri*

  
Cem anos de “Tomé Teixeira”, escola criada em 5 de Setembro de 1910, como grupo escolar de Itararé, pelo governo do Estado e cujo prédio definitivo foi construído no centro da jovem Itararé de 1914, emancipada há 21 anos (em 28 de agosto de 1893). Felizmente o “Tomé” chega aos nossos dias nesse prédio que todos conhecemos  e que faz parte do patrimônio histórico de Itararé.

Nesses cem anos quantas gerações de Itarareenses passaram pelo “Tomé” fazendo parte de sua história, a escola fazendo a história de Itararé.
Na época em que passei pelo “Tomé Teixeira” a sociedade procurava se libertar da herança autoritária de uma ditadura no Brasil e de um conflito mundial, e após contar as perdas começava a se reorganizar sob a vigência da democracia.

O “Tomé”, de tradição republicana e democrática era então a nossa segunda casa. E nós amávamos aquela escola onde nunca houve discriminação de qualquer natureza; onde nunca houve ingerência política ou econômica. Nossa pouca idade não nos permitia, avaliar os fatos, mas os resultados da política da escola eram o que importava. Um grande encontro do qual a escola era o centro, o centro da criação da comunidade infantil de Itararé, nos seus primeiros passos na direção do futuro.

A sociedade Itarareense nutre o mais profundo respeito e gratidão por essa escola centenária que com muita dignidade vem cumprindo seu papel de trazer para nossas crianças e adolescentes, o saber que a sociedade produz. Difícil a missão dos mestres. “Os professores, como os anjos, são os portadores da mensagem que liberta, ou seja, o conhecimento”.

Quero ainda lembrar Alice Fonseca, minha primeira professora, sua sabedoria e paciência com aquela menininha que fui eu aos 7 anos, que quando terminava sua atividade diária entendia que estava na hora de ir para casa sem esperar o fim da aula, não sem antes passear um pouco na escola- pedia para beber água, ver as horas, jogar o lixo do cesto, apontar lápis, apagar a lousa e outros que tais.
Mas, Alice enxergava a criança além da aluna e fez o “Tomé” que me parecia um lugar tão grande, e repleto de gente que eu achava que nem me via, transformar-se num espaço acolhedor e confiável, que ela criara com o seu muito amor.

* Professora, poetisa, historiadora


________________________
D. ADELAIDE BARCO PERUSSO

Terezinha de Jesus Mello Martins (Tere)*
           
            Não seria necessário completar este nome, porque “Dona Adelaide”, só existiu uma em nossa cidade e, já sabemos que é a do Grupo Escolar de Itararé, a dona Adelaide, de porte imponente, de possante voz, de extrema energia e competência. Fazendo cálculos hoje, percebo que tinha somente 39 anos naquela época de 1943, e desde que dela me recordo, era com aqueles tradicionais cabelos brancos, naquele tempo eram prateados, lindos para nossa apreciação infantil.
            Para recordá-la neste espaço, conto apenas uma passagem comigo, sua aluna naquele ano.
            Minha irmã gêmea e eu, éramos as primeiras da classe de 40 meninas.  Daquelas que só tiravam 100. Aparecida com sua perfeita caligrafia, desde aquele tempo, ajudava D.Adelaide, passando os pontos de História e Geografia na lousa, para sua alegria e para frustração de todas nós outras, de caligrafia normal. Então, nós não tínhamos aquele privilégio de escrever na lousa como uma professora e apagá-la. Como era gostoso apagar a lousa naquele tempo, mal podia saber que ia passar quase 25 anos de minha vida com um apagador nas mãos! Bem, nós duas chegávamos meia hora antes do inicio das aulas para tomar conta da biblioteca. Minha irmã recitava em todas as festividades da escola. Era bem mais desinibida que eu. Enfim, éramos aquelas alunas queridinhas da professora, hoje enxergo isso. E eu certa vez, em minha ingenuidade, quis valer-me dessa preferência de nossa mestra por nós, para tirar proveito, mas “saí pelo cano”, como se diz.
Era um sábado, como de costume, D.Adelaide chamava as meninas à frente da classe, na última meia hora para declamações. cantos, danças, etc. Chamava uma, ora chamava outra, e eu apavorada, porque morria de vergonha de ir à frente, e ter que recitar. Nunca tinha feito isso em toda a minha vida  de escolar. Eis que D. Adelaide me chama:
- “Terezinha, agora é você. Venha cá!”
Eu gelei. Meu coração disparou, meu rosto afogueou, me apavorei. E para sair daquela situação, ingenuamente lhe disse:
- “D. Adelaide, se a senhora deixar que eu não vá à frente recitar, eu lhe dou um saco de laranjas.” ( Papai trazia todo sábado na carroça que vinha do sítio, sacos de laranjas e mexericas e a gente sempre levava uma sacola dessas frutas para nossa professora, isso era sagrado). Então foi o que me veio à mente naquele momento crítico, para livrar-me do suplício, achando que um saco de laranjas era o máximo que eu poderia oferecer pela barganha.
D. Adelaide  virou uma fera (para minha cabeça, é claro). E lá veio o pior sermão que já havia ouvido em meus 11 anos de vida.
- “Então, você acha, menina, que vou me vender por um saco de laranjas? Vocês acham, crianças, que eu vou me vender? Isso é muito feio. Não se faz! E falou, falou, falou. A classe toda em suspense. Eu queria era morrer, achar um buraco para sumir. E, murchinha, sofrendo mais que nunca, envergonhada, humilhada, chorando a cântaros debruçada na carteira. Mas, foi naquele momento que aprendi ser feio fazer chantagem desse tipo. Foi a primeira lição de moral que aprendi fora de casa e valeu-me para sempre. O incidente em classe terminou aí; não fui recitar e a professora nunca mais me chamou para tal, para minha felicidade.
À saída da aula desse dia triste dia para mim, fui seguindo a certa distância D.Adelaide que ia ao lado de D.Alice Braga e D. Marcolina Porto, suas colegas, porque morávamos todas do mesmo lado da praça Cel. Jordão. E quando passávamos em frente ao bar do Calixtrato, havia um cartão com propaganda de filme do cinema de seu Geninho, cujo título jamais pude esquecer.” – “Dois Bicudos Não Se Beijam.” D. Adelaide leu em voz alta aquele cartaz como se fosse para suas colegas, mas era para mim, pois virando-se para traz e olhando-me carinhosamente repetiu; “Dois Bicudos não se Beijam”, não  é Alice?” Bastou-me aquele seu olhar para tirar-me toda tristeza. Voltei a sorrir, depois de muitas lágrimas.
D.Adelaide era assim mesmo, imparcial, de personalidade marcante. Calculem, eu sendo uma das prediletas levar aquela bronca, imaginem as outras?
E com toda aquela autoridade que possuía, nós a adorávamos!
Descanse em paz querida Mestra do passado de Itararé, envolta em milhares de recordações de todos seus ex-alunos.
Que seja esta, a homenagem sincera, o preito de gratidão e respeito de todos que tiveram o privilégio de terem sido seus discípulos, naquela tradicional sala do meio do “Tomé”, que dá para rua XV. Todos nós que fomos seus alunos, ao passarmos por lá, não deixamos nunca de recordá-la.
Passam-se gerações de Itararé, mas esta professora, jamais passará na lembrança de todos.
D. Adelaide... Hoje  bonita saudade.

* Professora, escritora, poetisa, jornalista


_______________________________

MEMÓRIAS DA MINHA ESCOLA
                                                                                                       Estéfan Polay*

Até o ano de 1944 residi na zona rural, mais precisamente, no Bairro da Seda, local onde se havia formado uma colônia austro-húngara. Por força do trabalho do meu pai - comprador de algodão para uma fábrica de tecidos de Jundiaí - a família mudou-se para a cidade, fixando residência na rua Coronel Licínio, atrás da Igreja Matriz, num prédio, que, em tempos anteriores fora a sede do famoso teatro São Pedro. A construção era enorme e servia de residência e depósito de algodão.
Tendo já completado sete anos, pois nascera em 1936, era o momento de ir para a escola. Foi então que meu pai me levou ao Grupo Escolar Tomé Teixeira. Na época o nome da escola era apenas Grupo Escolar de Itararé. Lá encontramo-nos com a professora Araci Melo, amiga da família, pois tinha sido professora na escola do Bairro da Seda e, além disso, ela era casada com um patrício de meu pai. Tendo meu pai me confiado à professora Araci, esta me encaminhou à sala do quarto ano, onde lecionava. Inicialmente, muito assustado, pois nunca tinha entrado numa escola,  pensei que seria ela a minha professora. Mas logo, sem dizer qualquer palavra, encaminhou-me à sala do primeiro ano, na classe regida pela professora Luísa Rolim.
As aulas já tinham sido iniciadas dias antes e, no momento em que cheguei, os futuros colegas – digo assim, porque não conhecia ninguém naquele momento – já desenvolviam as atividades programadas pela professora. Dessa forma, senti-me completamente desambientado. Lembro-me que comecei a tentar desenhar, isso mesmo, desenhar o “a, e, i, o, u”, que, segundo a metodologia da época, era o modo de se iniciar a alfabetização. A professora escrevia na lousa – na época se chamava “pedra” – com sua letra rigorosamente pedagógica as cinco letras correspondentes às vogais e tínhamos que ler em coro várias vezes. Depois é que tentávamos copiar desajeitadamente as letras. A professora a todo momento fazia correções e muitas vezes guiava a mão dos alunos no ato de desenhar as letras. É bom lembrar que na época não havia, como hoje há, as escolas de educação infantil, de maneira que entrávamos no primeiro ano literalmente analfabetos.
Assim o tempo ia passando e no final do ano já tínhamos vencido todas as lições da cartilha e do primeiro livro de leitura e sabíamos cantar o Hino Nacional Brasileiro e o Hino à Bandeira, uma vez que fazíamos isso diariamente. No último dia de aula do ano letivo, um tanto ansiosos, esperávamos o “julgamento”. De repente, a boa nova: passamos para o segundo ano. Ufa! Que alívio! Nesse dia fomos dispensados mais cedo e fomos levar o boletim a nossos pais.
Quinze de fevereiro de 1945. Início das aulas. Expectativa. Em que sala ficaremos? Quem será nosso professor ou nossa professora? Brincávamos no pátio, quando subitamente surge o seo José Melilo, que também era maestro da banda musical, e faz soar a sineta. As filas são organizadas. Para nossa surpresa, fomos parar na mesma sala em que tínhamos estudado no ano passado. A classe estava toda alvoroçada. Repentinamente abre-se a porta. Todos em pé, em posição de sentido, quase que no estilo militar. Entra a professora e nos cumprimenta sorridente e nos dá carinhosamente as boas-vindas. A professora pareceu-nos simpática, boazinha, como costumávamos dizer. Que alívio! Era a professora Éden Aparecida Pires, a dona Didi, como era conhecida. Com ela aprendemos muitas coisas, pois era muito paciente. Continuamos com o aprendizado da leitura, agora no segundo livro. Havia um álbum de gravuras e a partir delas fazíamos as composições. A dona Didi lia-nos belas histórias, que reproduzíamos por escrito em nossos cadernos. Havia os pontos de História e Geografia, os quais tínhamos que copiar da lousa, decorar e depois “devolver”. Parece que ainda ecoa nos meus ouvidos a recomendação “estudem bem o descobrimento do Brasil, que vou tomar o ponto amanhã”. E não havia desculpas. Na aula seguinte tínhamos que narrar a história do descobrimento com os detalhes com que foram passados, mas a dona Didi tinha muita paciência e nos ajudava quando nos esquecíamos de algum detalhe. Nas aulas de aritmética aprendíamos cálculos das quatro operações. Resolvíamos os clássicos problemas de “fui à feira e comprei ...”. O pior é que nem sabíamos direito o que era feira, pois aqui em Itararé, naquela época, ainda não havia isso. Os legumes, as verduras, as frutas, os ovos eram oferecidos de porta em porta por vendedores ambulantes.
De ponto em ponto, de problema em problema, de composição em composição, quando demos conta, já era fim de ano e estávamos em férias. Merecidas férias! Para professores e alunos.
As férias passaram rapidamente. Novamente quinze de fevereiro. Agora do ano de 1946. Terceiro ano. Quem será a professora ou o professor? Desta vez foi diferente. O professor Adriano Rolim, do corredor que fica em frente ao pátio, chamou os alunos do terceiro ano masculino. Naquele tempo meninos e meninas ficavam em classes separadas. Havia até um muro que separava o pátio dos meninos e o pátio das meninas.
No terceiro ano as coisas já foram ficando mais difíceis. Mais pontos para decorar. Cálculos e problemas de aritmética mais complicados, em que entravam vários tipos de operações. Começamos a estudar a frações. Tínhamos dificuldade de entender que um quarto é menor que um terço. Sempre pensávamos o contrário, pois quatro é maior que três. Em compensação, cantávamos muito. Era um momento relaxante, embora os cantos fossem quase sempre patrióticos ou de exortação aos estudantes. Não se gastava o precioso tempo da escola para cantar músicas vulgares.
Da mesma forma como nos anos anteriores, o fim do ano chegou rápido. Recebemos o boletim com o resultado final: Aprovado. Apto para freqüentar a quarta série, mas a quarta série não fiz no Tomé Teixeira. Fui estudar em São Paulo no Colégio São Bento.
Muito devo aos meus caros mestres do Grupo Escolar. Se não fossem eles, não teria escrito estas memórias.
Com isto quero fazer uma singela homenagem à Escola Estadual Tomé Teixeira pelos cem anos de existência.

* Professor universitário
                                               _________________


HOMENAGEM
 Centenário  1910 - 2010
Maria Aparecida Silva Mello*

Em minha família, crianças de quatro gerações sentaram nos bancos escolares do Tomé Teixeira. Primeiramente, meu pai, Antonio do Amaral Mello, depois, seus sete filhos, alguns de seus netos e uma bisneta.
            Meu pai, Toninho, como era chamado, tinha 13 anos quando o Grupo Escolar foi fundado em Itararé, sendo ele, ali matriculado. Mais tarde, já adulto, com muito orgulho, contava que fora aluno do próprio  Prof. Tomé Teixeira.
Podemos considerar o prédio deste tradicional estabelecimento de ensino, suntuoso para aquela época. Para mim, ele é até hoje! Majestoso! Querido! Cada vez que passo em frente a ele, na rua XV, muitas lembranças passam em minha mente. Às vezes, até paro um pouco, imaginando-me em suas salas de aula, em suas carteiras, com a presença de colegas e mestras muito queridas. Lembro-me de todas, do 1º ao 4º ano.
             Terezinha (Tere), minha irmã gêmea e eu, fomos alfabetizadas no sítio Taquarussu, por Cleo, casada com tio Dedê; ela, irmã da saudosa escritora Eunice Brito Tatit. No 2º semestre, fomos matriculadas no Grupo Escolar de Itararé e, após um teste, encaminhadas para a seção C. A profª efetiva era D.Zilda, mas a substituta  até o fim do ano, foi D.Santa Tatit. Lembro-me bem dela. Por pouco tempo, o Prof. Silvio, seu irmão, foi nosso mestre. Uma tarde ele quis tirar uma foto com as gêmeas.
            No 2º ano, a profª foi D.Orminda Muzzel, e depois, D. Arminda Menck, de quem gostávamos muito. Uma vez colocou uma das gêmeas no colo, durante a aula.
            No 3º ano, a profª foi D. Picucha, parece que era irmã de D.Santa, não tenho certeza. E no 4º ano, foi D. Adelaide Barco Perusso. De todas, tenho gratas recordações, mas de D. Adelaide, nem sei o que dizer. Foi marcante demais sua presença na sala de aula. Altiva, enérgica e ao mesmo tempo, doce, carinhosa.
            Quase todo dia fazíamos redação de português, baseada num quadro de figuras, num cavalete, colocado na frente da sala. Um dos quadros mostrava um cachorrinho. Fiz a redação e levei o caderno à mesa; D.Adelaide leu, não anotou nenhum erro, dando nota 100. Guardei esse caderno  e todos outros: linguagem, caligrafia, desenho, por uns 20 anos; antes de desfazer-me dele, passei-o em revista e deparando com a história do cachorrinho, achei-a mesmo muito bonita, até comovente, ficando admirada  com o resultado de bons mestres e de alunos com vontade, com gosto para estudar.
            As serventes, D.Paulina e D. Emília, cuidavam das crianças no recreio. Gostávamos muito delas, eram boazinhas, atenciosas. D. Paulina tinha uma filha, Maria, nossa colega de classe, com quem gostávamos de brincar.
            Creio que por ter a letra bem firme, fui escolhida por D.Adelaide, para escrever os pontos na lousa: história, geografia, ciências. Tere foi escolhida para exercer o cargo de bibliotecária do Tomé, o que lhe proporcionou muita alegria; adorava o que fazia.
            Este carinho especial para conosco, certamente foi motivado pelo fato de sermos gêmeas, e deixando a modéstia de lado, boas alunas, registrando nota 100  durante o ano todo, e apenas uma falta, que deixou D. Adelaide muitíssimo contrariada. A falta foi motivada para acompanharmos uma procissão no bairro do Rodeio, organizada pelo Padre João. No dia seguinte, entramos na classe, amedrontadas, mas D. Adelaide nos recebeu carinhosamente, sem comentar a falta e ainda elogiando nossos cabelos, que havíamos cortado, e um anel de pedrinha vermelha, daqueles que vinham pendurados numa velinha que custava 1 tostão, na padaria do Jacó, um alemão; o anelzinho era meu.
            Assim era D. Adelaide, a querida e inesquecível mestra!
            E nestas recordações presto minha homenagem à querida EE. Tomé Teixeira, um dos marcos da minha infância, já tão distante, mas que nestes relatos transportaram-me a um tempo muito feliz. Muito mesmo, em que era criança!
*  (A.Mello)  - Professora, Escritora, Poetisa
_______________________

DOCES LEMBRANÇAS
Maria Eponina Tatit Holtz Cavichiolo*
Hora do recreio. Inverno. O pátio gelado, vento batendo nas pernas deixadas descobertas pela saia curta de uniforme. Entretanto, nada diminuía minha pressa para chegar à fila da sopa da “Caixa”. A moedinha era sempre reservada na véspera, para garantir o prato de sopa de fubá com folhas de couve. Fumegante e com tempero na dose exata, era a melhor sopa do mundo. Posso ainda, em minhas lembranças, saborear aquele prato inesquecível.
Dia da árvore. Para a celebração, fomos aos canteiros do Grupo Escolar. Primeiro cantamos o Hino e depois plantamos uma árvore. Foi a única árvore que plantei na minha vida e na minha memória tornou-se sagrada.
Minhas professoras, uma inspiração. Dona Alice Braga, a alfabetizadora. Ou seria doçura derramando as letras e os números em nossas cabecinhas de sete anos?
Dona Leonor Machado, de quem gostei tanto que convenci minha mãe a pedir que eu fosse para sua sala no terceiro ano. Sua forma de contar histórias era uma atração especial.
Quarto ano, Dona Didi. Sobrinha de minha tia Santa, família de excelentes professores, Dona Didi foi inovadora. Cada aula era uma novidade para nós. Usava cartazes coloridos, cuidadosamente preparados, antecipando a comunicação visual que veio muito depois. Aprendi tudo nesse ano de forma objetiva e com muita alegria.
Tem mais: as pessoas de minha idade, com mais de setenta anos, dizem ser do tempo da palmatória e do castigo sobre o milho. Durante os anos que estudei no Tomé Teixeira, de 1945 a 1948, nunca vi nada parecido com isso.
Meus pensamentos voam constantemente até o passado e, frequentemente, até o Tomé Teixeira. E são todas doces lembranças...
   * Graduada em Línguas Anglo-Germânicas
____________________

MEMÓRIAS DO TOMÉ TEIXEIRA
José Ghizzi Tatit*

Quando Maria Conceição me telefonou pedindo para lhe escrever há poucos  dias, fiquei a meditar. Quantas lembranças da infância... Como colocar em ordem cronológica?  Impossível, mas começaram a pintar algumas coisas do “Grupo Escolar Thomé Teixeira”.
A primeira coisa foi a emoção do 1º dia de aula no primeiro ano. Fiquei muito feliz, pois a Professora era minha tia “Santa”Tatit. Lembro-me bem que fiquei muito orgulhoso, e com ela comecei a aprender o “a – e – i – o – u” em uma sala que parecia ser enorme na parte de traz do Grupo Escolar.  Interessante que recordo-me do primeiro dia de aula e depois vem um apagão.
 Depois veio o 2º ano, o terceiro e aí recordo-me do Professor Adriano, enérgico, mas com uma paciência enorme e quando a gente queria brincar, pronto, levava uma reguada no dorso da mão, sem força evidentemente, mas de efeito pedagógico excelente e que não deixou sequelas. Isto era ensinar com dedicação e amor ao trabalho. Havia um respeito muito grande, mas ninguém tinha medo, temor. Era respeito mesmo. Às vezes até um “puxão” de orelha, mas a gente merecia mesmo.
A pedagogia da época a meu ver foi ótima sobre todos os aspectos. Conto estas histórias aos filhos e a um monte de netos. Recordo-me do uniforme “caqui” com um emblema do “Grupo Escolar Thomé Teixeira” e com calça curta, e as meninas com blusa branca e a saia azul marinho, não era isso?  Sapatos pretos e limpos.
As filas duplas para entrar em sala, para tudo. Ah, e os recreios, como era bom! Tão esperado para poder brincar um pouco e tinha o lanche que eu recebia na frente do Grupo na rua Quinze, ao lado de uma pequena árvore encostada no muro com grade que ainda existe se não me engano. Era um orgulho estar no Thomé Teixeira
E quando chegou o 4º ano veio a energia da Profª. Adelaide Barco. Meu Deus que Santa Professora! Que privilégio ter sido aluno dela. Até hoje tenho na cabeça a lembrança de seus cabelos brancos, com a face rubra às vezes, pela energia que desprendia chamando a atenção da gente a toda hora e ensinado com um vigor impressionante. Dava frequentemente aulas de reforço.
Praticamente todos estudaram no Grupo Escolar Thomé Teixeira, meus pais, os amigos, etc. Foi nessa época que despertou em mim o desejo de estudar Medicina. E assim, após o Grupo fui para o Ginásio, a seguir São Paulo, e finalmente o curso de Medicina. Após o curso Médico, fui para uma pequena cidade no norte do Paraná, por um ano, para adquirir um pouco de experiência; depois fui para São Paulo iniciar os estágios para poder exercer uma especialidade. Foram mais três anos de Cirurgia Geral, três anos de Cirurgia Plástica, até obter o título de especialista em Cirurgia Plástica, após exames específicos. Foi então que tive oportunidade de ver de perto politraumatizados, queimados, Hansen, etc, e intervir em todas as patologias, reconstruções de membros, face, etc. Em se tratando de queimados, infelizmente, a gente viu tudo e de tudo. Daria um livro se pretendesse escrever sobre tudo o que a gente viu e continua vendo na vida prática.
Um fato que me marcou muito foi o dia 08/05/1945 quando começou um foguetório em Itararé e um alvoroço generalizado no Grupo Escolar. Ficamos então   sabendo que havia terminado a guerra mundial. A direção da escola liberou todos os alunos e saímos então pela rua 15 gritando. Foi uma festa inesquecível. Até que enfim a gente não precisaria mais ir para as filas do trigo nas padarias e armazéns. Terminou o racionamento. Foi muita emoção para a época, principalmente para nós crianças. Fazia sol e todo mundo na cidade gritava: “Viva! Acabou a guerra!” Acho que mal compreendíamos o que realmente estava ocorrendo.
Não lembro se foi o diretor ou diretora que deu a notícia. E o fato repetiu-se em agosto quando soltaram a bomba atômica. Foi um comentário geral e no Grupo me recordo da confusão, pois ninguém sabia explicar ao certo o que acontecia. Não sei se havia comemoração ou desolação, mas sei que  a gente ouvia comentários em todos os cantos.
Tenho lembranças de vários professores, mas passaram  tantos anos, mais de 65 e, por isso, não recordo mais os nomes. Foi um tempo muito marcante, sobretudo pelo aspecto da formação básica intelectual, normal. Felizes fomos nós que desfrutamos de quatro anos do Grupo Escolar Thomé Teixeira.
Curitiba, 05/08/2010
*Cirurgião Plástico

_________________

MINHA PASSAGEM PELO GRUPO ESCOLAR TOMÉ TEIXEIRA

Antônio Carlos Tatit Holtz*

Nos idos de 1944, ainda durante a ditadura Vargas e antes do término da Segunda Guerra Mundial, alguns meses depois do cinqüentenário de Itararé, fui eu matriculado no Grupo Escolar Tomé Teixeira. Entrei no primeiro ano do Curso Primário, já com sete anos e meio de idade, uma vez que nasci no mês de Julho de 1936 e não era permitida a matrícula de crianças com menos de 7 anos nesses cursos. O Prefeito da cidade de Itararé era meu tio Eugênio Tatit.
Quando completei o Primário já estava com onze anos e meio em dezembro de 1947, o Presidente da República era Eurico Gaspar Dutra, tendo sido deposto Getúlio Vargas em 1945. A Guerra tinha acabado e os Expedicionários brasileiros tinham voltado da Itália, inclusive os Itararéenses que dela participaram. O Prefeito, recém assumido depois da saída de meu tio, era Adhemar Vaz de Oliveira.
Depois de tanto tempo, 66 anos após minha entrada na escola, é missão difícil a solicitada de recordar o que se passou naquela época, naquele intervalo de anos. Mais fácil é listar fatos históricos, como os acima mencionados, porque estão registrados. Mas vou tentar.
Ainda me recordo perfeitamente que minha primeira professora foi Maria José Antunes Tatit, a tia Santa, casada com meu tio Rui Tatit. Ficaram marcadas na minha lembrança as suas aulas e até mesmo as sílabas e palavras escritas no quadro negro, em giz colorido, que me chamavam tanto a atenção. A Cartilha da Amélia era nosso guia através das letras.
Minha tia ficou grávida e esperando seu segundo filho, teve de parar de dar aulas, o que ocasionou que fosse substituída por uma professora de quem não me lembro o nome, mas a quem também eu devo muito do que sou.
Também me recordo que quando entrei por primeira vez naquela escola, os corredores e as salas eram grandes e pareciam imensos para uma criança pequena. O quintal do recreio também era grande, indo até a Rua 24 de Outubro. Nesse quintal se organizava a fila de entrada da escola e todos ficavam rigorosamente perfilados, aguardando a ordem para entrar. Antes da entrada, era executado o Hino Nacional e todos cantavam.
O horário do recreio dava oportunidade de conhecer os colegas e espairecer um pouco. Minha mãe trazia um café com leite para mim, nesse horário, que eu tomava na mureta da frente do Grupo Escolar, ao seu lado esquerdo. O edifício do Grupo Escolar estava a meio caminho entre os dois lugares mais importantes para mim naquela época: a minha casa, na Rua Newton Prado e a casa de minha avó Eponina Fiuza Tatit, na Praça Ruy Barbosa.
Naturalmente há outros professores de quem me lembro bem, como a Dona Aracy Melo e Dona Adelaide Barco, essa última minha professora no último ano do Primário. O respeito que tínhamos por todas essas professoras era imenso. A disciplina era estrita e bastava um olhar delas para sinalizar o que tínhamos de fazer.
Mais tarde fomos aprendendo a escrever não somente com o lápis, mas também com a caneta, cujo tinteiro ficava na nossa própria carteira escolar. Era necessário muito cuidado para não quebrar a pena que colocávamos na caneta e que, felizmente, podia ser substituída facilmente, quando quebrava.
A época que passei no Grupo Escolar Tomé Teixeira coincidiu com um período de grandes motivações locais e nacionais, como a recente e passada celebração pelo cinqüentenário da cidade, no nível local, e o acompanhamento da evolução dos acontecimentos na segunda guerra mundial, com a participação dos expedicionários brasileiros, no nível nacional.
Havia um grande espírito cívico naquela época, com uma forte união nacional contra o nazismo e seus aliados italianos e japoneses. Aprendemos o hino da Força Expedicionária brasileira que foi enviada para lutar na Itália. Por outro lado, a idéia de pan-americanismo também nos foi apresentada ainda no curso primário, o que pode ser computado como um fato altamente positivo.
Como colegas de turma, desde o primeiro ano primário, eu tive meus primos José Tatit e Antônio Aparecido Holtz, junto com quem comecei a descobrir o mundo. Infelizmente, o segundo já não está entre nós.
Todos os dias havia a “sopa”, que alimentava muitos alunos, que assim o desejavam, ou que disso necessitavam. Em um dia da semana havia projeção de filmes no galpão interno da escola, onde todos assistiam alegremente a comédias e filmes do Far West americano, tão em moda na época.
Mas nem tudo foram alegrias para mim em meus tempos de Tomé Teixeira. Em 1945 morreu meu irmão menor, com apenas 3 anos de idade, de paralisia infantil (poliomielite). Não havia vacinas contra essa enfermidade nessa época e até hoje não sei por que ele foi o escolhido e não eu. Ele foi o único da família que não cursou o Grupo Escolar Tomé Teixeira, uma vez que meu pai Frederico e minha mãe Paula o freqüentaram antes de minha irmã Maria Eponina e eu.
Estudei muito para acompanhar tudo que me ensinaram no Tomé Teixeira e penso que consegui dar o meu máximo e conta do recado, uma vez que minha colega Maria de Lourdes Luciano e eu terminamos o curso classificados como os melhores alunos de nossa turma.
Seqüencialmente, depois disso, vieram o curso secundário feito no Ginásio de Itararé, o colegial feito no Colégio Arquidiocesano de São Paulo e o curso de Engenharia Civil, feito na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, com Especialização em Estruturas.
Nessa qualidade de profissional é que eu gostaria de fazer uma comparação entre conceitos de engenharia e o que ocorreu em minha vida. O Tomé Teixeira foi o responsável pela base da minha educação, com uma “fundação firme” e um arcabouço que deixou espaço e “estrutura sólida” para o preenchimento com outros conhecimentos posteriores. Esse arcabouço foi fortemente construído, pois resistiu a muitas tormentas, ventos e terremotos no nível nacional e no nível internacional. Deu guarida também, posteriormente, a muita cultura, que proporcionou o “acabamento” de minha educação.
O conjunto da formação que lá me foi dada é que foi importante. Trataram de me incutir não somente ensinamentos formais da língua portuguesa, geografia, matemática, ciências naturais, mas também a educação no tratamento das outras pessoas, o respeito às instituições, a civilidade, etc, com uma Educação com E (maiúsculo).
Concluo este depoimento, escrito em linguagem quase telegráfica, dizendo que, naquela época se formavam verdadeiros cidadãos, já na escola primária!


* Consultor da área de Infraestrutura (Energia, Recursos, Hídricos). Prestação de   serviços nacionais e internacionais através da “PH Consultoria e   Participações Ltda.”